08/04/2010

Da ideia ao produto – entrevista a Aubrey Hampton - revista Orgânica - Verão/Outono 1997 – PARTE II

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ORGANICA: Como é que lhe surgiu a ideia de fazer uma linha de
chá verde para cuidados da pele e cabelo? Nessa época mais ninguém o fazia. Porque é que o fez?

AUBREY: Desde muito novo tenho interesse na cultura japonesa e assisto, em Nova Iorque, a peças de teatro Noh e Kabuki. Já tinha conhecimento da cerimónia do chá, apesar de nunca ter visto o
chá verde em pó, ou matcha, que é usado. Quando o chá verde se começou a tornar popular nas lojas de comida saudável eu comecei a pesquisar os benefícios da sua utilização em aplicações tópicas. Verifiquei que o chá verde é particularmente bom a proteger a pele dos danos provocados pelo sol e tem muitos anti-oxidantes. Para o meu trabalho decidi usar a melhor qualidade de chá verde, o matcha, o qual nunca tinha sido utilizado antes em produtos de cuidados da pele. Tal como na cerimónia do chá se faz a bebida sagrada, também eu faço os meus produtos misturando matcha directamente nas minhas fórmulas.

ORGANICA: Hoje em dia existem diversos livros, debates e uma ampla comercialização de ácidos gordos essenciais, mas o Aubrey foi o primeiro a produzi-los, em 1967, para uso em produtos de tratamento da pele e cabelo. Como é que lhe surgiu essa ideia?

AUBREY: Apesar de ter um doutoramento em Química Orgânica, não foi na escola que aprendi o valor dos ácidos gordos essenciais. Li sobre esse assunto nos livros de Adele Davis e verifiquei a sua eficácia quando os incorporei nas minhas fórmulas, realmente pareceram produzir resultados efectivos na pele e couro cabeludo. Os ácidos gordos essenciais passaram a ser um ingrediente fundamental dos meus cremes, cremes de limpeza e amaciadores do cabelo. Produzi o primeiro creme de limpeza facial vegetal e com ácidos gordos essenciais em 1968. Nessa época ninguém o tinha feito. Os ácidos gordos essenciais são, ainda hoje, importantes em muitos dos meus produtos e em muitos dos óleos com que trabalho. O óleo de rosa mosqueta®, por exemplo, tem um teor elevado de ácidos gordos essenciais, tal com o óleo de prímula da noite. Estes ácidos são muito sensíveis, devendo ser protegidos da oxidação, o que eu faço ao adicionar vitaminas com propriedades anti-oxidantes. E já agora, eu produzo e distribuo os meus próprios produtos.

ORGANICA: Como orador principal na “The Invention Convention”, no Trinity College, em Hartford, Connecticut, em Abril último, falou para mais de 2000 jovens e viu o que eles estão a fazer. Vê algum futuro para os jovens inventores nos Estados Unidos a América?

AUBREY: Eles têm ideias fantásticas e conseguem transformá-las em produtos. Qualquer pessoa que pense que a América não tem ideias, nem inventores, devia ir ver as invenções destes jovens. Estes jovens, alguns com apenas 9 ou 10 anos de idade, são pequenos Edisons e Franklins. Uma rapariga, da qual me recordo, tinha uma invenção, que gostei muito, chamada “Maximum Squeeze”. Era um tubo de pasta dos dentes com abertura nas duas extremidades. Assim podia-se espremer do meio para qualquer uma das pontas. Pode ser que uma empresa como a Tom’s of Maine possa oferecer um royalty a esta rapariga, para poder usar este tubo exclusivo e prático. Que achas desta ideia Tom?

ORGANICA: O que disse a estes pequenos inventores acerca de onde vêm as ideias?

AUBREY: Disse-lhes o que inconscientemente já sabem: que as ideias vêm de todos as partes, e, sim, que saem das sombras. Disse-lhes isso porque acredito ser verdade. O inventor deve ser conhecedor de tudo e aprender de tudo. Não só ciência, mas também música, arte, teatro, dança, todo o espectro do conhecimento. Eu sei que a televisão é muitas vezes culpada por tudo e por nada, mas a verdade é prejudica estas jovens mentes porque reduz tudo e tira toda a energia ao que vemos. Talvez seja essa energia que faça as coisas acontecer, que forme as ideias. Tudo o que inventei até hoje veio de experiências vividas e não de ver um programa de televisão. Quando inventei coisas para a indústria da imprensa gráfica aconteceu porque experimentei os equipamentos: as prensas, as tintas, o processo de fabrico das placas de impressão, e por aí fora. A experiência é vital, assim como o conhecimento prático, não se pode obter através de uma lente. As ideias crescem a partir de outras ideias e a partir dessa sombra que elas evoluem. É um processo directo.

ORGANICA: Então as ideias vêm a experiência?

AUBREY: Não. A experiência, por si só, não faz as coisas acontecerem. É mais como uma crença. Acreditar é bastante poderoso. Eu acredito nas potencialidades de um ingrediente e ele acaba por se tornar vital para um produto em que estou a trabalhar. Crer é a razão por que existe.

ORGANICA: Acreditar?

AUBREY: Pode ser a verdade de tudo. A poetiza Jorie Graham tem um texto que exprime muito bem esta questão acerca de acreditar, ideias e criação. Ela diz, “A forma como tudo funciona/ é que nós realmente acreditamos/ que estão ali/ simples e disponíveis/ para se ilustrarem a si próprias”. Esta citação é capaz de ser a melhor explicação para tudo o que nasce das sombras e se transforma em ideias que podemos ver. Depois nós só temos que as iluminar.



Aubrey Hampton é o fundador e director executivo da Aubrey Organics® e autor de três livros sobre cuidados naturais para pele e cabelo.

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