05/04/2010

Da ideia ao produto – entrevista a Aubrey Hampton - revista Orgânica - Verão/Outono 1997 - PARTE I


ORGANICA: Ao longo dos últimos 40 anos criou cerca de 200 produtos para cuidado e tratamento da pele e cabelo, elaborados a partir de ingredientes vegetais provenientes de todo o mundo. De onde vêm as suas ideias para criar novos produtos?

AUBREY: T. S. Eliot di-lo melhor do que eu. “Between the idea and the reality/Between the motion and the act/Falls the shadow." As novas ideias vêm daí, da sombra, de certa forma, da escuridão – de um lugar inesperado. Consigo seguir o rasto de quase todas as ideias para um produto praticamente até ao seu início, o qual é, habitualmente, fantástico.

ORGANICA: Fantástico, como?

AUBREY: Talvez alguém, que nem sequer conheço, me envie um extracto vegetal. Quando olho para ele descubro que é algo espantoso, algo com o qual eu quero criar produtos. Foi o que aconteceu com o óleo de sementes de botões de rosa mosqueta®, por exemplo.

ORGANICA: Essa é, deveras, uma linha de produtos interessante, uma das mais populares. E diz que esse óleo “lhe entrou pela porta”, inesperadamente?

AUBREY: Sim. Um dia chegou ao meu escritório um jovem vindo do Chile, apareceu caído do céu. Ele entregou-me uma amostra de óleo de sementes de botões de rosa mosqueta® e um relatório, de uma dermatologista, sobre pacientes que tinham sido tratados tanto com o óleo como com creme contendo cerca de 15% de óleo. Fiquei espantado com as fotografias, dos pacientes, “antes” e “após” tratamento – a melhoria verificada na sua pele foi tremenda. Drª Fabiola Carvajal é o nome desta dermatologista. Na América do Sul, no Chile, ela ouviu falar de mim, da minha empresa e de como fazíamos produtos utilizando exclusivamente ingredientes naturais. O jovem que, então, me visitou perguntou se estaria interessado em comprar óleo de sementes de botões de rosa mosqueta®, aos produtores chilenos, e criar produtos com ele. Nessa época – em 1986 – não existia, nos Estados Unidos, nenhum produto com este ingrediente, porque não havia óleo de sementes de botões de rosa mosqueta®. Cá estava: uma ideia completamente nova.

A minha empresa estava longe de ser uma das primeiras paragens desse jovem ao tentar vender o óleo no Estados Unidos. Ele apresentou o óleo e o relatório da Drª Carvajal a várias, grandes e bem estabelecidas, empresas de cosméticos, mas estas não mostraram interessadas. Contudo, um químico, numa destas empresas, mencionou o meu nome. “O Aubrey talvez faça alguma coisa com isso”, disse ele ao jovem. “Ele é uma pessoa que gosta de ingredientes naturais e encomenda-os por o mundo. Visite-o. Se ele resolver usá-lo você vai vender bastante”. Foi assim que começou a minha ideia para a linha de rosa mosqueta® para cuidados da pele e cabelo. Poucos meses depois da sua visita já tinha lançado seis produtos no mercado (
creme hidratante facial, tónico facial, champô, etc.) e comprado milhares de litros de óleo de sementes de botões de rosa mosqueta® Inclusive, o presidente do Chile, dessa altura, cuja mulher usava esses produtos (creme de rosa mosqueta®), convidou-me a visitá-lo.

ORGANICA: E visitou-o?

AUBREY: Não.

ORGANICA: Numa das suas entrevistas recentes, para a televisão, referiu que às vezes quando está a trabalhar numa ideia nova, para um produto, os ingredientes que precisa simplesmente vêm ter consigo. Eles entram pela porta, vindo ter directamente consigo, tal como a rosa mosqueta®? Explique-me isso.

AUBREY: (Risos) Não me recordo onde disse isso, mas é verdade. Por vezes estou a trabalhar numa nova ideia para um produto, e digo para mim, “acho que preciso aqui de um óleo como o de hipofaé”. Mas nem sempre o vou procurar, ou por vezes até posso procurar e não encontrar. Entretanto esqueço-me e continuo com o trabalho. Então, subitamente e aparentemente por razão nenhuma, um ervanário, de um sítio qualquer, envia-me uma planta com uma carta a descrever os seus benefícios. Isso aconteceu-me diversas vezes precisamente no momento certo. Há alguns anos atrás, eu estava a trabalhar num novo champô de tratamento. Estava a trabalhar com óleo essencial de madeira de zimbro e extracto de casca de pinho branco, mas precisava de algo mais. Não sabia o quê, foi então que o óleo de
polipódio (Calaguala Fern) “entrou pela porta” e era precisamente o que precisava.

ORGANICA: E ficou satisfeito com os resultados?

AUBREY: Sim. Eu apresentei ao mundo o
polipódio para uso tópico, desde então tem sido usado na Europa para tratamento da psoríase e tem sido estudado em Harvard. Claro, não posso publicitá-lo como um ingrediente que elimina a psoríase, é apenas um creme e um champô para peles e cabelos com problemas.


ORGANICA: O Aubrey tem psoríase. O polipódio ajuda-o a melhorar?


AUBREY: Tenho psoríase desde que nasci. Ajuda-me um pouco, mas não tanto como a outras pessoas com o mesmo problema. As coisas são mesmo assim, mas a minha pele está em muito boa forma, pois uso produtos sem químicos sintéticos.


(...)

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